Edição zero da terra do som - arquivo


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Enquanto não publicamos o filme sonoro da edição zero da Terra do Som, aqui ficam fotografias de alguns momentos da mostra e os links de algumas das peças que ali ouvimos e discutimos.


PROGRAMA

Sexta, 30 de Maio

18H30 ABERTURA - SESSÃO DUPLA •  Sala 3

Parto (Ouvidos de Mercador), 2002 (3’38’’)
Realização: Alexandrina Guerreiro
Rádio: TSF (Portugal)

Histórias de Rios – Zêzere, 2012 (19')
Realização, guião, som e edição: Sara Morais
Produção: Ana Lopes
Música: PINKDRAFT
Rádio: Antena 1 (Portugal)

La vache et le Peul, 2013. (7’28’’)
Realização: Félix Blume
Montagem e sonorização: Samuel Hirsch
Rádio: ARTE radio (França)

Message in a bottle, 2012. (43’45’’)
Realização: Peter Mulryan
Supervisão: Liam O’Brien
Rádio: RTÉ Radio 1 (Irlanda)
Prix EUROPA 2013

Cubo do Som: Miguel Azguime (em baixo, à esquerda) apresenta Growing Verse
Fotografias de Sofia Saldanha e Rita Costa

20H45 - 22H45 •  Cubo do Som

Growing Verse, Junya Oikawa
Deep End, curadoria por In the Dark (Reino Unido)
The Last Voice, Joaquin Cofreces
Prix Phonurgia Nova 2009
Esperanza, José Bernard Corteggiani, Rádio Sures (Espanha)


Sábado, 31 de Maio

12H - 13H30 • Sala 3

Lord God Bird, 2005. (12’)
Realização: Dan Collison e Elizabeth Meister
Música: Sufjan Stevens
Por: Long Haul Productions (Estados Unidos da América)
Sigma Delta Chi Award for Best National Radio Feature 2005

Dari, Primata como nós, 2007. (43’25’’)
Realização: Carlos Vaz Marques
Montagem e sonorização: Alexandrina Guerreiro
Rádio: TSF (Portugal)

Le manchot est timbré, 2005. (18’27’’)
Documentos sonoros: Florence Hesters
Realização e entrevista: Matthieu Crocq
Montagem e sonorização: Christophe Rault
Rádio: ARTE Radio (França)

A Terra do Som pela caneta da Matilde, 9 anos

14H - 15H30 • Sala 3

I was stolen by the gypsies,
poema de Charles Simic lido pelo próprio

Roubado (Ostras) - (1’)
(a partir de I was stolen by the gypsies)
Realização: Pedro Coelho
Rádio: Antena 2 (Portugal)

La nef des fous, 2011. (26’07’’)
Poemas e Realização: Olivier Apprill­
Montagem e sonorização: Arnaud Forest
Rádio: ARTE Radio (França)

The Left to Die Boat, 2012. (55’)
Realização: Sharon Davis e Geoff Parish
Rádio: ABC (Austrália)

Adelino Gomes dá uma aula de rádio a partir de cinco sons de que não se esquece.
Fotografia de Sofia Saldanha


15H30 - 16H • Sala 3

Uma mão de sons
Adelino Gomes apresenta cinco sons de que não se esquece. 
Ficha técnica e notas do autor:   
Sinal Horário (A dança do):
1º 1966, Emissora Nacional (1966) – Música, SH, gong, anúncio de estação, D. Sonoro e primeiras notícias, 2m50s
2º 2014, Antena 1 – Temperaturas, jingle, SH, anúncio de estação, Ind. Noticiário, títulos, meteorologia, primeiras notícias 1m50s
3º 2003, Antena 1 – SH, anúncio de estação, indicativo do noticiário, Sena Santos e primeiras notícias, 45s.

Em Abril de 1994, a RDP substituiu o sinal horário por uma mixórdia sonora. A decisão viria a ser remendada pouco depois. Ao contrário, porém, do que presumi ter acontecido (a fazer fé nos textos que escrevi no Público de 1994 e de 2003), o original nunca mais foi reposto. Já tinha organizado uma sequência de três registos mostrando a sua redução progressiva, quando a amabilidade de Eduardo Leite, da Direcção de Emissão e Arquivo da Rádio e Televisão de Portugal, me deu acesso a um conjunto de sons com os celebrados “pis”, gong, anúncio de estação, indicativo do Diário Sonoro e resumo de notícias de um dia de 1966, na EN.      

Mais do que a evocação deslumbrada, provavelmente efabulada, que guardo do mítico “sinal”, decidi, por isso, oferecer-vos um relâmpago sonoro que nos ilumina um país, dois regimes e uma rádio que 48 anos e três meses separam e distinguem.

A breve viagem começa às 13 horas do dia 20 de fevereiro de 1966 e termina às 9h00 do dia 26 de Maio passado.  Aflora nela um mundo de mudanças. Simbolizadas num sinal horário que dura 27 segundos em 1966 e cinco segundos em 2014; mas que, sobretudo se denunciam, à hora  da partida, num discurso  de uma nota só, enroupado em pausas e solenidade de gongos e anúncios de estação; e que, meio século depois, nos surgem num frenesim de sons e palavras e temperaturas máximas e mínimas quase a abafarem as badaladas do tempo. Reconhecerão, nelas, as vozes marcantes de Pedro Moutinho, no arranque; e de António Macedo, no terminu.

A viagem encerra com uma espécie de escala técnica. Na dobra do século. Em que o tempo já acelerou mas tudo fluía directo ao assunto. Um modo de fabricar sons e produzir sentido que aqui fica como a minha primeira de três homenagens desta tarde. A Francisco Sena Santos.
Nas duas primeiras incursões históricas, deixei os sons referentes ao ambiente sonoro que precede o sinal horário.


Viva Chile! – Santiago do Chile, 1988, 16 segundos. Arquivo pessoal.
Este som foi captado por mim às cinco da manhã do dia 6 de Outubro de 1988. Poucas horas depois de proclamada e reconhecida a vitória do Não no referendo a Pinochet.
Enviado da Antena 1, eu caminhava pela Alameda Central de Santiago, quando ouvi gritos ao longe e vi a surgir de uma lateral, do lado direito, um carro preto, tipo Buick norte-americano. Sentado à janela, o corpo a sair do carro, um homem agitava uma bandeira chilena. Foi o tempo de pôr o gravador a trabalhar e ouvir, de forma cada vez mais distinta, um jovem a verbalizar em menos de 20 segundos a alegria de um povo pelo fim da ditadura:

Viva Chile mierda
Viva Chile
Por fim
15 años
Por fim
Viva Chile…



Geólogo alemão na Arrábida – Entrevista de Rafael Correia, Lugar ao Sul,  Antena 1 (estúdios de Faro), 1987, 10m28s. Arquivo pessoal.
Uma lição de rádio. Apenas mais uma, entre centenas dadas aos sábados de manhã, todas as semanas, durante três décadas, em Lugar ao Sul. Aquele que, continuo a sustentar, foi o mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do sul do continente português. Autor (segunda homenagem): Rafael Correia, um monumento radiofónico.


C’es le vietcong qui arrive! – Reportagem de François Ponchelet, Europe nº 1, 1975,  1m22s (retransmitida em “Radio Libre aux Grands Reporters”, Europe nº 1, 06-04-1982). Arquivo pessoal (também parcialmente disponível na Internet, como complemento a uma entrevista dada pelo autor, em 2012  http://geopolis.francetvinfo.fr/francois-ponchelet-raconte-la-chute-de-saigon-9101). 
Tudo pode ser dito nas breves palavras de um telegrama. Ou contado, na rápida sequência de palavras ditas e sons captados pelo repórter que saiba estar lá, no momento certo. Quando os últimos norte-americanos (repórteres incluídos) tinham abandonado já a capital do Vietname do Sul,  o enviado especial da estação francesa Europe nº 1, François Ponchelet, alugou um táxi e percorreu a cidade, na perspectiva da chegada do Exército de Libertação do Povo (Vietcong). Pelas 11h30, ao abandonar o palácio presidencial, onde conseguira recolher declarações do presidente provisório, general Minh, avistou o primeiro de três carros de combate que se dirigiam para o local. Ligou o gravador Nagra ainda sem perceber a origem e objectivo da força blindada e começou a descrever o que via e ouvia. Em menos de um minuto e meio, registou para a posteridade o momento simbólico da queda de Saigão e as primeiras (e prudentes) opiniões de habitantes. Era o fim da guerra do Vietname.


O coveiro de Salazar –  Cemitério de Santa Comba Dão, entrevista de Adelino Gomes (Página 1) e João Paulo Guerra (Tempo Zip), 1972 , 10m28s. Arquivo pessoal.

Os autores integravam as equipas dos programas Página 1 (AG) e Tempo Zip (JPG), ambos emitidos pela Emissora Católica Rádio Renascença.  Regressavam de um trabalho falhado sobre os baldios, na região de Viseu. Um pouco a medo (dizia-se que o cemitério do Vimeiro se encontrava vigiado pela Pide), decidiram ir visitar a campa de Salazar. A entrevista, em versão parcial, embora, lograria passar no crivo da censura no Tempo Zip (00h00-02h00). Muito por obra, certamente, da roupagem sonora que João Paulo Guerra lhe inventou, como “lebre”, para o arranque : música de Wagner e parágrafos ditirâmbicos sobre o ditador, retirados de uma biografia de Salazar, escrita pelo produtor de rádio Ápio Garcia. 


Fora de ordem
Ode marítima (excerto), de Álvaro de Campos –Leitura por Rui Pedro, realização de Adelino Gomes, Rádio Comercial, 1983, 2m53s. Arquivo pessoal.


Homenagem a Rui Pedro, leitor residente de textos literários e poemas de “Ler para Crer”, um série de programas realizados por Adelino Gomes e Joaquim Furtado para o IPL (Instituto Português do Livro) e transmitidos semanalmente, em 1983, ao longo de seis meses, na Rádio Comercial, então ainda integrada na RDP.

João Paulo Baltazar e Adelino Gomes conversando sobre a reportagem Pescadores de Memórias (à esq.), 
escuta da reportagem Vermelho da cor do céu com a autora, Ana Catarina Santos (à dir.), e outros 
momentos de escuta no 2.º dia do Cubo do Som. Fotografias de Rita Costa, Oriana Alves e Sofia Saldanha


16H15 - 22H30 • Cubo do Som

Pescadores de Memórias, João Paulo Baltazar, Herlander Rui, TSF (Portugal)
Abbiamo fatto 30 facciamo 31, Manuela Barile, Binaural/Nodar - Zepelim RUC
Phonobiographie #1, Charo Calvo, Atelier de Création Sonore Radiophonique (Bélgica),
Premier Prix du jury - Euroradio Ars Acustica 2014
Flashmob poétique pour Yeats, Véronique Macary
Prix du Reportage Audio, LibéLabo - Longueur d'Ondes 2011
Music for five instruments and a gun, Arnold Habert, Binaural Nodar (Portugal)
Catarina é o meu nome, Maria Augusta Casaca, João Felix Pereira, TSF (Portugal)
Two days in the Tank, William Price
No limite da dor, Ana Aranha, Antena 1 (Portugal)
Katia, Magalie Schuermans, Prix Longueur d’Ondes 2014
Vermelho da cor do céu, Ana Catarina Santos, Luís Borges, TSF (Portugal)


Domingo, 1 de Junho

14H - 15H • Sala 3

Quod nihil scitur
João Paulo Guerra e Fernando Alves regressam a uma viagem memorável.
“De como os druidas das Telefonias vão em demanda do patrono das gargantas mas ficam sem voz, sem palavras, sem pinga, quando alguém pega no microfone e foge com a reportagem através dos vapores do Alto da Lixa, e descobrem então ali, na Maia, o primeiro cidadão-repórter” (JPG)

Por razões de força maior João Paulo Guerra não pôde comparecer a este
regresso ao Alto da Lixa, mas Fernando Alves representou a parelha
que pôs no ar talvez a gargalhada mais longa da história da rádio.
Fotografia de Nuno Morão
 

15H - 16H15 • Sala 3

Sahara, 2007. (6’10’’)
Realização: Hélène Coeur
Montagem e sonorização: Christophe Rault
Rádio: ARTE Radio (França)

Souvenons nous du Joola, 2013. (53’)
Realização: Jean-Philippe Navarre
Produção: Alain Devalpo
Montagem: Alain Joubert
Rádio: France Culture
Prix ITALIA 2013


Desmontagem do Cubo do Som a fim de o transformar em plateia para a tertúlia final. 
Fotografias de Nuno Morão


16H30 - 17H30 • Bar

A rádio de sonho de...
Com António Pinto Ribeiro e moderação de Carlos Andrade
Desafiamos o programador cultural e ensaísta António Pinto Ribeiro a descrever a sua rádio de sonho. Irá voltar ele à Teoria da Rádio de Brecht? Vamos escutá-lo e depois conversar com os ouvintes desta emissão experimental sobre os caminhos que se abrem percorrendo outras terras do som. Além do público, convidamos os curadores e autores seleccionados a fecharem connosco o círculo da edição zero, numa conversa moderada por Carlos Andrade.



Sons de vento, de rouxinol, de trabalho (Mercado do Bolhão) e de ódio (Rádio das Mil Colinas) foram o fio condutor de uma conversa sobre a rádio de sonho de António Pinto Ribeiro e sobre o que pode ser a rádio e o que faremos para que o seja. Fotografias de Nuno Morão e Sofia Saldanha



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