Os contadores apresentam seus contos


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Corre corre cabacinha
Um refrão que fica na cabeça, ou será na cabaça?! Já há muito tempo que o queria contar, mas faltava qualquer coisa, até que apareceu a Ana Sofia... e aí percebi o que faltava. Hoje temos um espectáculo chamado “Contos cantados” e tudo começou às voltas com esta cabacinha. Carlos
Sobre a cabacinha? A professora Isabel Cardigos um dia explicou-me assim: «A Cabacinha é um conto que corre corre que se farta em Portugal, mas não em Espanha, muito menos em França, e, enfim, só a vamos encontrar no Irão (e há, numa edição da UNESCO com tradução do Pedro Tamen, uma do Nepal... vá-se lá a entender.» E a velha furunfunfelha... pronto, também é velha! Ana Sofia

História da carochinha e O canário
Era, não era? E as irmãs fazem a sua parte… De braços estendidos, dedos entrelaçados, a minha irmã Vina fazia balancé e cantava: «Quem quer casar com a carochinha que é bonita e engraçadinha?»
Mais tarde, aprendi com Adolfo Coelho que a Carochinha se tinha tornado perfeitinha (com certeza foi à Olaria das Brotas). Mas aqui para nós que ninguém nos ouve, ela só conseguiu a solidariedade de todos porque se tornou uma carochinha de trazer por casa!
A minha irmã Lena chegava a casa, vinda do campo de trabalho universitário do Crato. Apesar de cansada, pegava na viola e cantava-me contando: histórias, canções, rimas, anedotas, lengalengas… E eu ia cantarolando as canções do José Afonso, do Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Padre Fanhais… foi assim que escorregou para o meu coração o “Romance do Canário”. Aprendi-o como se aprende uma canção. Mais tarde descobri que se tratava de um romance recolhido por Leite Vasconcelos, linguista e etnógrafo português, entre outras coisas. Hoje canto-a como uma cantiga narrativa, como quem conta uma história… são as voltas que a vida dá! Por tudo isto, agradeço às minhas irmãs oferecendo este conto e este canto aos meus sobrinhos. Joaninha



Zmeu

Os zmeus são entes das florestas encantadas, húmidas e escuras da Roménia. Esta história baseia-se num conto tradicional romeno, reescrito pela escritora Ángela Ionescu há cinquenta anos e que agora regressa à oralidade através desta versão pessoal: um pequeno valente que enfrenta com sucesso os maiores desafios. Gosto de pensar que os contos estão vivos enquanto mudam. E acho muita piada em dizer que um gigante esperto é perigoso, mas ainda mais um gigante tolo. É quase uma metáfora das forças que dominam hoje o nosso mundo. Rodolfo


Chica Amorica
Não sei precisar quando e como conheci a história da "Chica Amorica".
Parece que fazia parte da minha memória desde sempre, apesar de se ter deixado adormecer por uns tempos. Até que um dia, estava eu a procurar fábulas para trabalhar com os meus alunos, encontrei uma versão escrita. Mal comecei a lê-la, recordei-me imediatamente do final e de certos pormenores diferentes, vindos sabe-se lá de onde. Acrescentei-lhe o meu ponto e contei-a aos meus alunos. E continuei a contar, muitas vezes. Porque gosto dela. Porque gosto de a contar. Porque gosto de sentir as reacções de horror e alívio das crianças que a ouvem. Porque é muito importante estar atento às raposas da vida e saber que é possível ser mais esperto do que elas. Margarida

Tranglomanglo
Pediram-me umas linhas para vos contar como nasceu este conto. Encontrei-o numa recolha de contos populares - Cuentos al amor de la Lumbre - onde António Rodrigues Almodôvar registou alguns dos contos que escutou em Espanha. Chamava-se El Tragaldrabas. De cada vez que o contei, fui tirando um pedacinho aqui, colocando acolá, encontrando na palavra ou no silêncio o ritmo da escuta e do respirar. Juntei-lhe uma lengalenga, uma melodia, um sobressalto… mas é ainda um conto novo dentro de mim. Ainda é um pequeno conto.
Um conto demora muito tempo a crescer na boca e na alma de quem o conta. O conto cresce, como cresce o contador. E quando o contador cresce, cresce também o conto. Até ficar grande e totalmente redondo – como os contos gostam de ser –, este Tranglomanglo ainda tem de rodar por muitos olhos e orelhas, dormir em muitas almofadas, ainda tem de pregar muitos sustos. Só depois ficará polido e enorme, imenso… como penso que deva ser esse tal de Tranglomanglo. São assim os contos, precisam de muito tempo para ficarem maduros... uma vida! Com os contadores é o mesmo. Cristina

A língua da caveira
A língua da caveira é um conto tradicional de origem angolana. Consta no livro Contos Populares de Angola, de Viale Moutinho. Tomei conhecimento desse conto no livro Literatura Oral do Luís da Câmara Cascudo, o maior folclorista e investigador da cultura popular no Brasil. Esse livro é uma investigação que ele fez sobre as categorias do conto tradicional e sua trajectória, onde aparecem algumas histórias, entre as quais esta, que tinha outro título e era um bocado diferente da versão que fiz. Procurei seguir apenas a estrutura do conto, que é o que normalmente faço quando trabalho com os contos tradicionais. Não sou nada fiel ao aspecto antropológico das histórias porque não é este o meu papel. Sou um simples contador de histórias e, como tal, quando conto um conto, acrescento vários pontos, inclusivamente o meu ponto de vista sobre o que estou a contar. Nesse sentido, o que, especialmente, me chamou a atenção neste conto, foi o tema: a mentira. E dentro da sua cápsula narrativa, o nonsense do diálogo entre duas caveiras que não mentiram e morreram pela perversidade do poder instituído, neste caso, representado pelo rei. Moral da história: P’ra que serve a verdade, se não se acredita nela? Thomas




Pele de piolho
A história que conto, a versão que me serviu de base há muitos anos, consta da recolha de Luís da Câmara Cascudo, historiador e antropólogo brasileiro da primeira metade do séc XX. Chama-se, no Brasil, “couro de piolho”, e não "pele". A informante que lha contou chamava-se Luísa Freire e era de Macaíba, no Rio Grande do Norte. Luís



Dona Labismina
Quando eu era menina, no Recife, lá no Brasil, a minha tia-avó Nevinha gostava muito de me levar a dançar a “Ciranda de Lia”, que era uma roda de danças e cantigas na beira da praia, na ilha de Itamaracá.
 Eu me lembro da lua grande, redonda e cheia e da roda também redonda, grande e cheia, e de toda a gente cantando e dançando a noite toda ao som da percussão e da voz do "puxador", que ia cantando as quadrinhas e nós respondíamos atrás: «Eu tava na beira da praia ouvindo a pancada das ondas do mar... Essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na ilha de Itamaracá». E era assim pela noite adentro. Um dia, depois da roda, estávamos eu e minha tia sentadas na beira da água e o mar estava bravo... a minha tia olhou para mim com aquele jeito muito dela, muito safadinho, e disse: «Ô filha, tu sabes porque é que o mar às vezes fica assim bem zangado, agitado, parece até que tá gritando com a gente?». Eu sabia que vinha história, e pedi: «Conte, tia, conte!». E ela contou assim... Claúdia







Era, não era
Uma valsa de palavras que dançam, uma canção para ti, para levares para casa a rodopiar na cabeça ou um até já, volta sempre! Ana Sofia e Carlos





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